quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Asfalto misturado com borracha resiste 16 vezes mais:

Pesquisa feita na UnB pode ajudar a criar especificações para construção de novas rodovias no Brasil.
O mau estado das rodovias brasileiras, que só na Operação Tapa-Buracos levou o governo a gastar R$ 400 milhões com recuperação, pode ser atenuado com uma medida eficiente que ganha adeptos a cada dia: o uso de asfalto modificado com borracha de pneu. Uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília (UnB) mostrou que esse tipo de cobertura é 16 vezes mais resistente que a usada atualmente. Enquanto um revestimento asfáltico comum suporta 6 mil situações que reproduzem a passagem de um caminhão no limite de peso, a mistura dessa matéria-prima com borracha agüenta 100 mil simulações até que o pavimento sofra uma ruptura. O engenheiro Luiz Guilherme Rodrigues de Mello, autor da tese de doutorado sobre o tema, defendida no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC), explica que as diferenças estão na capacidade dos dois materiais em se deformar e retornar ao estado em que se encontravam. “A borracha dá mais elasticidade. Por isso, demora mais a entrar em processo de fadiga”, explica.
SEGURANÇA: Para quem está acostumado a transitar em pistas recapeadas freqüentemente, parece difícil acreditar que uma medida tão simples cause um impacto tão grande. Mas a vantagem existe e não é a única. Mello enumera pelo menos mais quatro benefícios. Além de demorar mais tempo para criar trincas e buracos, esse tipo de pavimento também leva mais tempo para se deformar com afundamentos, comuns em faixas onde passam ônibus. O asfalto especial, que pode receber até 20% de borracha, também reduz o acúmulo de água após uma chuva, evitando aquaplanagem e acidentes. Isso ocorre porque a borracha possibilita gerar misturas asfálticas com mais poros. A água entra por esses minúsculos espaços e pode ser carreada para uma saída lateral nas pistas. Vale ressaltar, ainda, um benefício indireto, uma vez que o emprego do produto ajuda a criar uma destinação para pneus que não podem mais ser reutilizados. Ou seja, é ambientalmente correto.
CUSTO: Como toda nova tecnologia, o asfalto com borracha sai mais caro que seu concorrente. Em média, 40%. Considerando apenas a execução do serviço do revestimento asfáltico, um quilômetro fica na faixa dos R$ 130 mil, contra cerca de R$ 90 mil de um pavimento tradicional. É preciso observar que a economia varia em função do tamanho da obra e do orçamento envolvido. Em qualquer caso, porém, as diferenças de preço se diluem a longo prazo. “O custo se perde na vida útil. Ele pode ser mais caro no início, mas o custo benefício é bem maior.” Cientes dessas vantagens, as empresas que detêm a concessão de rodovias, principalmente no estado de São Paulo, dão preferência ao novo produto. As pistas duram mais, o gasto com manutenção é menor e, assim, o lucro com os pedágios, mais elevado. Para oferecer esse diferencial, no entanto, as concessionárias tiveram de buscar as especificações para a produção desse asfalto no exterior, tanto pela falta de normas brasileiras quanto pelos obstáculos que a máquina estatal tem em aplicar novas tecnologias com a mesma rapidez do setor privado. Mello espera, no entanto, que o estudo ajude na criação de normas para o País, tanto que decidiu pesquisar o tema e realizar o estudo onde a idéia do asfalto borracha começou, no Arizona, Estados Unidos. Parte do doutorado foi realizada na Arizona State University, sob orientação do professor Kamil Kaloush. Na UnB, o engenheiro foi orientado pelo professor Márcio Muniz de Farias. O Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) já analisa configurações específicas do asfalto borracha para que empresas e projetistas possam aplicar a tecnologia nas estradas brasileiras. Segundo Mello, cumprir essa regra não será uma dificuldade para as empresas. “O Brasil tem todas as condições de fazê-lo”.
Estudo analisou formação de rachaduras:
Quando uma trinca se torna visível no asfalto, é sinal de que, por baixo, o pavimento já está bastante danificado. A pressão em cima do pavimento força a abertura de trincas nas camadas inferiores, que se quebram. No entanto, também é possível que a rachadura surja de cima para baixo. Se a estrada for muito rígida, uma carga elevada tende a abrir uma fenda na lateral de onde o pneu passa. Esses dois fenômenos foram estudados sob o olhar da mecânica dos pavimentos e vão ajudar a prever trincas e entender o comportamento de uma rodovia ao longo dos anos.
Confira algumas rodovias que utilizam o pavimento:
- BR-040, trecho Rio de Janeiro/Juiz de Fora, da concessionária Concer;
- SP-075, da concessionária Rodovia das Colinas;
- SP-255, da concessionária SPVias e BR-277, da concessionária da Ecovia.

PERFIL: Luiz Guilherme Rodrigues de Mello é doutor em Geotecnia com especialização em Pavimentação pela Universidade de Brasília (UnB), mesma instituição em que concluiu o mestrado em Geotecnia. A graduação foi realizada em Engenharia Civil na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Contato pelo e-mail
Fonte: UnB / http://inovabrasil.blogspot.com/2008/10/asfalto-misturado-com-borracha-resiste.html. Em 17/10/2008

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